terça-feira, 7 de setembro de 2010

Identidade negra

Refletir sobre a construção da identidade negra não abre mão sobre a discussão da Identidade enquanto processo mais amplo, ou seja, mais complexo numa perspectiva das dimensões pessoais e sociais que jamais devem ser separadas, por estarem interligadas e definitivamente e não se constroem fora da vida social. Reconhecer-se numa identidade sugere, responder afirmativamente a uma interpelação a partir de diferentes situações, instituições ou agrupamentos sociais, estabelecendo com isso um sentido de pertencimento a um grupo social de referencia.

Partindo destes pressupostos entendemos que a identidade negra, assim como em outros processos identitários se constrói gradativamente, dentro de uma dinâmica que envolve inúmeras variáveis, causas e efeitos, desde as primeiras relações sociais simples as complexas, ou seja, o processo que se inicia na família, (e que por sinal nunca citada por Freyre, ficando a desejar a formação da família afro-descendente no Brasil, enquanto que a patriarcal ficou bastante explicita na sua obra), que vai se desdobrando a partir das outras relações que o sujeito estabelece nas relações sociais. Neste contexto a identidade negra é concebida como uma construção social, histórica, cultural e plural, implicando com isso a construção de um olhar de um grupo étnico e racial a partir da relação com o outro.

Por outro lado entendo que construir uma identidade negra positiva (em que o afro-brasileiro não se envergonhe do pertencimento da matriz africana) em uma sociedade que historicamente vem ensinando aos seus filhos negros que para ser reconhecido e aceito socialmente é preciso negar-se a si mesmo, é um grande desafio a ser enfrentado pelos negros e negras brasileiros (as).

È de suma importância ressaltar que não nascemos racistas, mas nos tornamos devido a uma herança de um criminoso processo histórico de negação da identidade e de “coisificação” dos povos africanos, porém vale lembrar que apesar de tudo o africano e seus descendentes ao contrario do que dizia Freyre no tocante à relação senhor e escravo como de perfeita harmonia, mostraram e vem mostrando resistência, não se submeteram e não mais se submetem a escravidão lutando para manter vivas as suas tradições culturais.

Os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente étnicos. (...) Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é dever por mais que reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar (FREIRE, 1999, p. 67)

Como alunos e alunas negras construirão a sua identidade se os instrumentos legitimadores utilizados pela escola, pela família e outras instituições sociais importantes, como a mídia, vem desqualificando os tributos do segmento étnico-racial negro? Desta forma muitas vezes só restam aos mesmos desenvolverem uma auto-estima acentuadamente baixa, por não se encontrarem, neste contexto, referenciais negros socialmente valorizados e, como conseqüência de tamanha injustiça percebe-se a falta de estimulo a permanência até os anos finais da educação básica de alunos e alunas negras nas escolas públicas, com isso sendo impedidos de galgarem postos de trabalhos ditos “dignos” ocupados por representantes de uma etnia “branca” que se tornou uma classe dominante.

Para entender a importância da construção da identidade negra no Brasil, não somente devemos considerar na dimensão subjetiva e simbólica, mas sobre tudo na dimensão político, ou seja, a tomada de consciência é um ato acima de tudo político de um “segmento étnico-racial excluído da participação na sociedade, para a qual contribuiu economicamente, com trabalho gratuito como escravo, e também culturalmente, em todos os tempos na história do Brasil” (MUNANGA – 1994).

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